Breve Histórico da Academia do Mestre João Pequeno de Pastinha-Centro Esportivo de Capoeira Angola
A Academia de João Pequeno de Pastinha foi inaugurada em 2 de maio de 1982, com a finalidade de retomar a linha de transmissão da Capoeira Angola, da maneira como ela foi preservada pela academia do Mestre Pastinha. Esta linha de transmissão foi interrompida quando a academia do Mestre Pastinha foi desativada, após a retirada do mestre do seu antigo espaço no largo do pelourinho, atualmente restaurante do SENAC e agravado com sua morte em 1981.
A vinculação da academia do Mestre João com a do Mestre Pastinha não se limitou exclusivamente às formas de ensino e de jogo, mas também, ao espírito associativista, na medida em que o Mestre João Pequeno reativou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, entidade criada pelo Mestre Pastinha, com a finalidade de agregar os angoleiros para utilizarem instrumentos comuns de preservação e de expansão da Capoeira Angola, assim como meios de amparo social aos capoeiristas.
Ë necessário frisar que, no momento em que o Mestre João Pequeno reabilitava o referido Centro, velhos mestres da capoeira estavam passando por dificuldades socioeconômicas; alguns deles morreram como indigentes, inclusive Pastinha.
A inauguração da Academia do Mestre João Pequeno não se configurou como fruto de uma idéia particular e isolada dos seus fundadores. Para o seu surgimento houve demandas históricas. Surgiu como recomendação da própria comunidade da capoeira baiana, dos movimentos negros, de instituições governamentais de cultura como o Departamento de Assuntos Culturais da Prefeitura de Salvador, a Fundação Cultural do Estado da Bahia, a Bahiatursa, o IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural e o Pró-Memória, que juntos participaram do 10 Seminário Regional de Capoeira, realizado em Salvador, no ano de 1980. No elenco das recomendações desse seminário havia indicações para que as instituições públicas facilitassem o surgimento de novos espaços para a prática da capoeira, com a participação dos velhos mestres, que passariam a ter oportunidades para abrir suas academias.
Portanto, nos anos 80, já estava em andamento na cidade do Salvador um processo cultural de grande vitalidade, tendo como principal mola propulsora a cultura popular de procedência afro-baiana, que nos dias de hoje tem sido capaz de transformar Salvador num centro cultural de referência internacional. Neste cenário, a capoeira assim como o candomblé, a música e a dança afro se constituíram em atividades de “ponta”, e nele (cenário) a Academia de João Pequeno tem um papel de grande importância em diversos aspectos. (Texto: Fred Abreu e Vitor Castro)12/2007.
Auto Biografia de João Pereira dos Santos – Mestre João Pequeno de Pastinha.
Mestre João Pequeno
Uma homenagem aos noventa anos de vida e setenta e cinco anos de capoeira. Biografia:
Em 27 de dezembro 1917 nasceu em Araci no interior da Bahia João Pereira do Santos, filho de Maria Clemença de Jesus, ceramista e descendente de índio e de Maximiliano Pereira dos Santos cuja profissão era vaqueiro na Fazenda Vargem do Canto na Região de Queimadas. Aos quinze anos (em 1933) fugiu da seca a pé, indo até Alagoinhas seguindo depois para Mata de São João onde permaneceu dez anos e trabalhou na plantação de cana de açúcar como chamador de boi, então conheceu Juvêncio na Fazenda são Pedro, que era ferreiro e capoeirista, foi aí que conheceu a capoeira.
Aos 25 anos, mudou-se para Salvador, onde trabalhou como condutor (cobrador) de bondes e na construção civil como servente de pedreiro, pedreiro, chegando a ser mestre de obras. Foi na construção civil que conheceu Cândido que lhe apresentou o mestre Barbosa que era um carregador do largo dois de julho, Barbosa dava os treinos, juntava um grupo de amigos e nos finais de semana ia nas rodas de Cobrinha Verde no Chame-chame.
Inscreveu-se no Centro Esportivo de Capoeira Angola, que era uma congregação de capoeiristas coordenada pelo Mestre Pastinha.
Desde então, João Pereira passou a acompanhar o mestre Pastinha que logo ofereceu-lhe o cargo de treinel, isso foi por media de 1945, algum tempo depois João Pereira tornou-se então João Pequeno, assim apelidado pelo mestre Pastinha.
No final da década de sessenta quando Pastinha não podia mais ensinar passou a capoeira para João pequeno dizendo: “João, você toma conta disto, porque eu vou morrer, mas morro somente o corpo, e em espírito eu vivo, enquanto houver Capoeira o meu nome não desaparecerá”.
Na academia do Mestre Pastinha, João Pequeno ensinou capoeira a todos os outros grandes capoeiristas que dali se originaram e mais tarde tornaram-se grandes Mestres, entre eles João Grande, que tornou-se seu Grande parceiro de jogo, Morais e Curió. Foi aconselhado pelo Mestre Pastinha a trabalhar menos e dedicar-se mais a capoeira. Embora pensasse que não passaria dos 50 anos percebeu que viveria bem mais ao completar tal idade.
Tendo que enfrentar a dureza da cidade grande João Pequeno também foi feirante, e carvoeiro chegou a ser conhecido como João do carvão, residiu no Garcia, e num barraco próximo ao Dique do Tororó.
Sua primeira esposa faleceu, mas, um tempo depois conheceu Srª Edalzuita, popularmente conhecida como Dona Mãezinha, no Pelourinho nos tempos de ouro da academia de seu Pastinha, constituíram família, e com muito esforço construíram uma casa em fazenda Coutos, Lá no subúrbio, bem longe do Centro onde foram morar e receber visitas de capoeiristas de várias partes do mundo.
Para João Pequeno o capoeirista deve ser uma pessoa educada “uma boa arvore para dar bons frutos”. Para quem a capoeira é muito boa não só para o corpo que se mantém flexível e jovem, mas também para desenvolver a mente e até mesmo servir como terapia, além de ser usada de várias formas, trabalhada como a terra, pode-se até tirar o alimento dela.
João Pequeno vê a capoeira como um processo de desenvolvimento do indivíduo, uma luta criada pelo fraco para enfrentar o forte, mas também uma dança, cuja qual ninguém deve machucar o par com quem dança, defende a idéia que o bom capoeirista sabe parar o pé para não machucar o adversário.
Algum tempo após a morte do mestre Pastinha, em 1981, o mestre João Pequeno reabre o Centro Esportivo de Capoeira Angola no Forte Santo Antônio Alem do Carmo(1982), onde constitui a nova base de resistência, onde a capoeira angola despontaria para o mundo, embora encontrando várias dificuldades para manutenção de sua academia, conseguiu formar alguns mestres e um vasto numero de discípulos.
Na década de noventa houve várias tentativas por parte do governo do estado em desocupar o Forte Santo Antônio para fins de reforma e modificação do uso do Forte, paradoxalmente em um período também em que foi amplamente homenageado recebendo o titulo de cidadão da cidade de Salvador, pela câmara municipal de vereadores. Em 2003 o Mestre João Pequeno foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural tornando-se Comendador de Cultura da República pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2007 recebeu pela câmara municipal de vereadores a Medalha Zumbi dos Palmares. Finalmente em 2008 está reverenciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia(UFBA). “É uma doce pessoa”, afirmam todos que tem a oportunidade de conhecer o Mestre João Pequeno, cuja simplicidade, a espontaneidade e o carisma seduzem a todos que vão até o Forte Santo Antônio conferir suas rodas, é um brincalhão, mas que também não deixa de dar uma baquetada nos que se exaltam e esquecem dos fundamentos da brincadeira e da dança.
A festa anual comemorativa de seu aniversário é um verdadeiro evento espontâneo da capoeira, onde se realiza uma grande roda, com a participação de vários mestres e membros da comunidade capoerana.
Além de ser de impressionar a todos que tem a oportunidade de vê-lo jogar com a sua excelentíssima capoeira e mandigagem, João Pequeno destaca-se como educador na capoeira, uma autoridade maior na capoeiragem de seu tempo, um referencial de luta e de vida em defesa da nobre arte afrodescendente.
O mestre João Pequeno, orgulha-se dos méritos alcançados com a capoeira, isto fica claro em uma de suas falas, que sempre repete oportunamente, “...meu pai me chamava de doutor, mas não mim botou na escola, mas através da capoeira sou doutor.”
Bibliografia: Santos, João Pereira dos. Mestre João Pequeno, Uma vida de Capoeira.
Conteúdo retirado do site oficial do Mestre João Pequeno.
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A Academia de João Pequeno de Pastinha foi inaugurada em 2 de maio de 1982, com a finalidade de retomar a linha de transmissão da Capoeira Angola, da maneira como ela foi preservada pela academia do Mestre Pastinha. Esta linha de transmissão foi interrompida quando a academia do Mestre Pastinha foi desativada, após a retirada do mestre do seu antigo espaço no largo do pelourinho, atualmente restaurante do SENAC e agravado com sua morte em 1981.
A vinculação da academia do Mestre João com a do Mestre Pastinha não se limitou exclusivamente às formas de ensino e de jogo, mas também, ao espírito associativista, na medida em que o Mestre João Pequeno reativou o Centro Esportivo de Capoeira Angola, entidade criada pelo Mestre Pastinha, com a finalidade de agregar os angoleiros para utilizarem instrumentos comuns de preservação e de expansão da Capoeira Angola, assim como meios de amparo social aos capoeiristas.
Ë necessário frisar que, no momento em que o Mestre João Pequeno reabilitava o referido Centro, velhos mestres da capoeira estavam passando por dificuldades socioeconômicas; alguns deles morreram como indigentes, inclusive Pastinha.
A inauguração da Academia do Mestre João Pequeno não se configurou como fruto de uma idéia particular e isolada dos seus fundadores. Para o seu surgimento houve demandas históricas. Surgiu como recomendação da própria comunidade da capoeira baiana, dos movimentos negros, de instituições governamentais de cultura como o Departamento de Assuntos Culturais da Prefeitura de Salvador, a Fundação Cultural do Estado da Bahia, a Bahiatursa, o IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural e o Pró-Memória, que juntos participaram do 10 Seminário Regional de Capoeira, realizado em Salvador, no ano de 1980. No elenco das recomendações desse seminário havia indicações para que as instituições públicas facilitassem o surgimento de novos espaços para a prática da capoeira, com a participação dos velhos mestres, que passariam a ter oportunidades para abrir suas academias.
Portanto, nos anos 80, já estava em andamento na cidade do Salvador um processo cultural de grande vitalidade, tendo como principal mola propulsora a cultura popular de procedência afro-baiana, que nos dias de hoje tem sido capaz de transformar Salvador num centro cultural de referência internacional. Neste cenário, a capoeira assim como o candomblé, a música e a dança afro se constituíram em atividades de “ponta”, e nele (cenário) a Academia de João Pequeno tem um papel de grande importância em diversos aspectos. (Texto: Fred Abreu e Vitor Castro)12/2007.
Auto Biografia de João Pereira dos Santos – Mestre João Pequeno de Pastinha.
Mestre João Pequeno
Uma homenagem aos noventa anos de vida e setenta e cinco anos de capoeira. Biografia:
Em 27 de dezembro 1917 nasceu em Araci no interior da Bahia João Pereira do Santos, filho de Maria Clemença de Jesus, ceramista e descendente de índio e de Maximiliano Pereira dos Santos cuja profissão era vaqueiro na Fazenda Vargem do Canto na Região de Queimadas. Aos quinze anos (em 1933) fugiu da seca a pé, indo até Alagoinhas seguindo depois para Mata de São João onde permaneceu dez anos e trabalhou na plantação de cana de açúcar como chamador de boi, então conheceu Juvêncio na Fazenda são Pedro, que era ferreiro e capoeirista, foi aí que conheceu a capoeira.
Aos 25 anos, mudou-se para Salvador, onde trabalhou como condutor (cobrador) de bondes e na construção civil como servente de pedreiro, pedreiro, chegando a ser mestre de obras. Foi na construção civil que conheceu Cândido que lhe apresentou o mestre Barbosa que era um carregador do largo dois de julho, Barbosa dava os treinos, juntava um grupo de amigos e nos finais de semana ia nas rodas de Cobrinha Verde no Chame-chame.
Inscreveu-se no Centro Esportivo de Capoeira Angola, que era uma congregação de capoeiristas coordenada pelo Mestre Pastinha.
Desde então, João Pereira passou a acompanhar o mestre Pastinha que logo ofereceu-lhe o cargo de treinel, isso foi por media de 1945, algum tempo depois João Pereira tornou-se então João Pequeno, assim apelidado pelo mestre Pastinha.
No final da década de sessenta quando Pastinha não podia mais ensinar passou a capoeira para João pequeno dizendo: “João, você toma conta disto, porque eu vou morrer, mas morro somente o corpo, e em espírito eu vivo, enquanto houver Capoeira o meu nome não desaparecerá”.
Na academia do Mestre Pastinha, João Pequeno ensinou capoeira a todos os outros grandes capoeiristas que dali se originaram e mais tarde tornaram-se grandes Mestres, entre eles João Grande, que tornou-se seu Grande parceiro de jogo, Morais e Curió. Foi aconselhado pelo Mestre Pastinha a trabalhar menos e dedicar-se mais a capoeira. Embora pensasse que não passaria dos 50 anos percebeu que viveria bem mais ao completar tal idade.
Tendo que enfrentar a dureza da cidade grande João Pequeno também foi feirante, e carvoeiro chegou a ser conhecido como João do carvão, residiu no Garcia, e num barraco próximo ao Dique do Tororó.
Sua primeira esposa faleceu, mas, um tempo depois conheceu Srª Edalzuita, popularmente conhecida como Dona Mãezinha, no Pelourinho nos tempos de ouro da academia de seu Pastinha, constituíram família, e com muito esforço construíram uma casa em fazenda Coutos, Lá no subúrbio, bem longe do Centro onde foram morar e receber visitas de capoeiristas de várias partes do mundo.
Para João Pequeno o capoeirista deve ser uma pessoa educada “uma boa arvore para dar bons frutos”. Para quem a capoeira é muito boa não só para o corpo que se mantém flexível e jovem, mas também para desenvolver a mente e até mesmo servir como terapia, além de ser usada de várias formas, trabalhada como a terra, pode-se até tirar o alimento dela.
João Pequeno vê a capoeira como um processo de desenvolvimento do indivíduo, uma luta criada pelo fraco para enfrentar o forte, mas também uma dança, cuja qual ninguém deve machucar o par com quem dança, defende a idéia que o bom capoeirista sabe parar o pé para não machucar o adversário.
Algum tempo após a morte do mestre Pastinha, em 1981, o mestre João Pequeno reabre o Centro Esportivo de Capoeira Angola no Forte Santo Antônio Alem do Carmo(1982), onde constitui a nova base de resistência, onde a capoeira angola despontaria para o mundo, embora encontrando várias dificuldades para manutenção de sua academia, conseguiu formar alguns mestres e um vasto numero de discípulos.
Na década de noventa houve várias tentativas por parte do governo do estado em desocupar o Forte Santo Antônio para fins de reforma e modificação do uso do Forte, paradoxalmente em um período também em que foi amplamente homenageado recebendo o titulo de cidadão da cidade de Salvador, pela câmara municipal de vereadores. Em 2003 o Mestre João Pequeno foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural tornando-se Comendador de Cultura da República pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2007 recebeu pela câmara municipal de vereadores a Medalha Zumbi dos Palmares. Finalmente em 2008 está reverenciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia(UFBA). “É uma doce pessoa”, afirmam todos que tem a oportunidade de conhecer o Mestre João Pequeno, cuja simplicidade, a espontaneidade e o carisma seduzem a todos que vão até o Forte Santo Antônio conferir suas rodas, é um brincalhão, mas que também não deixa de dar uma baquetada nos que se exaltam e esquecem dos fundamentos da brincadeira e da dança.
A festa anual comemorativa de seu aniversário é um verdadeiro evento espontâneo da capoeira, onde se realiza uma grande roda, com a participação de vários mestres e membros da comunidade capoerana.
Além de ser de impressionar a todos que tem a oportunidade de vê-lo jogar com a sua excelentíssima capoeira e mandigagem, João Pequeno destaca-se como educador na capoeira, uma autoridade maior na capoeiragem de seu tempo, um referencial de luta e de vida em defesa da nobre arte afrodescendente.
O mestre João Pequeno, orgulha-se dos méritos alcançados com a capoeira, isto fica claro em uma de suas falas, que sempre repete oportunamente, “...meu pai me chamava de doutor, mas não mim botou na escola, mas através da capoeira sou doutor.”
Bibliografia: Santos, João Pereira dos. Mestre João Pequeno, Uma vida de Capoeira.
Conteúdo retirado do site oficial do Mestre João Pequeno.
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GOSTARIA MUITO DE VER FOTO DO MESTRE NAZARENO DE ICOARACI
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